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ENTREVISTAS

Acadêmico é responsável pelo desenvolvimento do Acheflan.


Produto da biodiversidade brasileira, de investimentos maciços e de profissionais inovadores como o Acadêmico João Batista Calixto, o primeiro antiinflamatório fitoterápico brasileiro está no mercado fazendo sucesso.

O Acadêmico João Batista Calixto, da Universidade Federal de Santa Catarina, um dos mais importantes pesquisadores brasileiros do Brasil em Farmacologia, é um dos principais responsáveis pelo lançamento do primeiro antiinflamatório fitoterápico desenvolvido no Brasil, o Acheflan.

O produto foi criado a partir uma planta da Mata Atlântica, a erva-baleeira ou maria milagrosa (Cordia verbenacea), e o seu desenvolvimento foi apresentado à comunidade científica na Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) encerrada em 27/8, na cidade de Águas de Lindóia, em São Paulo.




ACHEFLAN é um antiinflamatório de uso local que age no alívio de dores associadas à inflamação dos músculos e tendões.


Leia a entrevista exclusiva do Professor Calixto ao Boletim do Acadêmico, da Academia Brasileira de Ciências (ABC).



BA - Que mensagem o Sr. poderia passar para os Acadêmicos, depois dessa sua experiência tão marcante para a nossa ciência?

JC - A principal mensagem é de otimismo com relação ao grande potencial e, sobretudo, sobre o papel relevante que tem a ciência brasileira para auxiliar na difícil, mas imprescindível, tarefa de possibilitar a inovação tecnológica tão importante para o crescimento e o desenvolvimento do Brasil. Com a colaboração de um grande grupo de pesquisadores, foi possível desenvolver um medicamento inovador, oriundo da nossa biodiversidade, cujas pesquisas foram integralmente realizadas no Brasil.

Esse processo permitiu - e ainda está permitindo - a criação de vários empregos qualificados nas diversas etapas da cadeia produtiva, bem como a geração de impostos significativos. Decorridos apenas três meses do seu lançamento no mercado, o produto Acheflan já é o mais vendido e prescrito pelos médicos brasileiros na sua categoria. Está em negociação a exportação do produto Acheflan para vários países, inclusive para os EUA, o que irá certamente aumentar muito suas vendas.

Esse é um caso raro e que sem dúvidas deve ser comemorado. Outras empresas nacionais deveriam seguir o exemplo do Laboratório Aché e procurar desenvolver através de parcerias com as universidades e centros de pesquisa do Brasil outros produtos inovadores nessa e em outras áreas do conhecimento.

BA - Quais as maiores dificuldades que o Sr. apontaria nessa relação universidade-iniciativa privada?

JC - Foram muitas as dificuldades. No aspecto geral do projeto, poderia destacar os grandes entraves ainda existentes na interação entre universidades e empresas. Existem ainda muitos preconceitos de ambas as partes que acabam por prejudicar o desenvolvimento dos projetos em parceria. A burocracia existente, não somente nas universidades, ainda é muito grande. Espera-se que a lei de inovação, quando regulamentada pelo governo, possa resolver pelo menos parte desses problemas.

Entretanto, na minha opinião, e penso que de muitos que participaram do desenvolvimento desse projeto, o maior desafio foi sem dúvida a falta de pessoal especializado em P&D no Brasil em várias áreas, em especial naquelas relacionadas ao desenvolvimento de medicamentos. Enganam-se aqueles que pensam que para inovar há apenas a necessidade de recursos financeiros substancias. Os recursos financeiros são realmente fundamentais, mas sem pessoal qualificado e, especialmente, sem uma boa gestão, não há como inovar.

A indústria farmacêutica brasileira, por exemplo, cresceu muito nas últimas décadas fazendo cópias de produtos desenvolvidos no exterior. Embora os parques fabris de muitas dessas empresas farmacêuticas nacionais sejam modernos, não há nas mesmas nenhuma experiência em P&D. Da mesma forma, embora seja inegável que houve um crescimento impressionante e fundamental na ciência brasileira e na formação de recursos humanos qualificados nas últimas décadas, ainda temos muito que aprender e avançar na área de P&D. Há uma certa ilusão na academia e até mesmo nas indústrias de que basta depositar patentes para desenvolver produtos. A patente é apenas um dos instrumentos necessários ao processo de inovação. Inovar significa ter produtos no mercado. Inclusive, devido às dificuldades porque passa o INPI, todas as patentes do produto Acheflan tiveram que ser depositadas no exterior, o que tornou o processo muito mais oneroso e também mais complicado.

Com relação ao nosso trabalho em particular, as dificuldades foram também imensas. Poderia destacar, entre outras, a enorme complicação e a burocracia nos processos de importação de insumos para pesquisa, a falta de biotérios no Brasil com boa infra-estrutura para fornecer animais de qualidade para pesquisa, a necessidade de ter que trabalhar duplamente com a mesma equipe de alunos de pós-graduação e de técnicos de laboratórios na pesquisa básica e na pesquisa aplicada. Para isso, foi necessário manter a produção científica de padrão internacional e a formação de recursos humanos na pós-graduação e ao mesmo tempo executar vários projetos em parceria com empresas, na maioria deles de curta duração (3 a 6 meses), que não resultaram em publicações. No caso específico do produto Acheflan foram sete anos de pesquisa, onde nenhum trabalho foi sequer apresentado em congresso. Somente agora estamos preparando os manuscritos para publicação em periódicos internacionais. Pela primeira vez um sumário do desenvolvimento do produto Acheflan foi apresentado na forma de um simpósio durante a última reunião anual da Fesbe em Águas de Lindóia.

BA - O Sr. pode fazer algum comentário que não fira a ética em relação aos quatro ou cinco novos produtos em desenvolvimento para o Aché?

JC - Quando o Laboratório Aché (o maior laboratório brasileiro de capital nacional) decidiu entrar na área de P&D em fitomedicamentos, por volta de 1996, foi criada uma divisão específica para essa área e também um conselho científico composto por cientistas e diretores da empresa para coordenar os trabalhos de P&D.

Existem no momento, cerca de cinco outros produtos em fase bastante avançada de desenvolvimento nas áreas cardiovasculares, sistema nervoso central e gastrointestinal que deverão ser lançados no próximo período de dois a cinco anos. Esses projetos foram e ainda estão sendo em grande parte desenvolvidos em parceria com o nosso laboratório.

Com o apoio que o Laboratório Aché receberá brevemente do BNDES e dos recursos já aprovados pela Finep espera-se um maior avanço no desenvolvimento desses projetos. No caso do produto Acheflan, os recursos aplicados foram totalmente do Laboratório Aché.


Nota do Managing Editor: esta entrevista foi primeiramente veiculada no Boletim do Acadêmico, da Academia Brasileira de Ciências (www.abc.org.br), de 02 de setembro de 2005. A figura e a legenda não fazem parte da matéria original. As informações foram obtidas em http://www.ache.com.br/.

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