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DIVULGAÇÃO

Internet repatria obra clássica da botânica.


A partir do fim deste mês, os botânicos brasileiros não precisarão mais mendigar acesso a obras raras e herbários da Europa para obter as melhores informações a respeito da flora nacional. A principal obra de referência sobre a diversidade de plantas do Brasil, a "Flora Brasiliensis", estará acessível na Internet - e de graça - no próximo dia 22. O livro original é resultado do trabalho de uma vida inteira do botânico alemão Carl Friedrich Phillip von Martius (1794-1868), que desembarcou no Brasil na comitiva da imperatriz Leopoldina, mulher de Dom Pedro 1º. Von Martius passou três anos viajando pelo país numa expedição que contou ainda com a participação do zoólogo Johann von Spix.

A "Flora" foi editada na Alemanha, em 130 fascículos, mesmo após a morte de Von Martius. Cem anos após a publicação de seu último volume, em 1906 em 1840, o naturalista imaginou que o trabalho fosse levar apenas sete anos-, ainda é a base de dados mais completa sobre a flora brasileira. Reúne descrições de nada menos que 22.767 espécies, de um total estimado de 50 mil existentes em território nacional. Qualquer pessoa que faça uma pesquisa botânica hoje no Brasil precisa comparar o material que trouxe de campo com as descrições do alemão. O problema é que a qualidade da única edição disponível em fac-símile é ruim, e os originais ficam trancados a sete chaves em bibliotecas.

"Há detalhezinhos das ilustrações que podem ser fundamentais para a identificação", diz o botânico George Shepherd, do Instituto de Biologia da Unicamp.

Para complicar ainda mais a situação dos pesquisadores brasileiros, os espécimes-tipo (indivíduos usados na descrição original de uma espécie) estão quase todos guardados fora do país.

Shepherd é um dos cientistas que resolveram facilitar a vida dos botânicos -e, por tabela, de todas as pessoas interessadas no conhecimento da biodiversidade brasileira- e colocar a obra de Von Martius na internet. O projeto teve custo total de R$ 426 mil, bancados pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), pela Natura Cosméticos e pela Fundação Vitae. Será lançado no dia 22, em Curitiba, durante a COP-8 (8ª Conferência das Partes) da Convenção da Biodiversidade da ONU.




Carl Friedrich Philipp von Martius.

Créditos: University of Muenchen (Alemanha).


"A resposta principal à biopirataria não está em legislação, e sim em conhecer e estudar a nossa biodiversidade", disse ontem Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp.

A digitalização das mais de 3.000 pranchas de ilustrações da "Flora Brasiliensis" foi feita por uma equipe do Jardim Botânico do Missouri, em St. Louis (EUA). A montagem do site (florabrasiliensis.cria.org.br) está sendo feita pelo Cria (Centro de Referência em Informação Ambiental), organização sediada em Campinas.

Até agora, a página tem 40% das espécies e 90% dos gêneros descritos na obra original, que poderão ser buscados pelo nome científico. As 11 mil colunas de texto ainda não foram digitalizadas. "Cada informação disponível no sistema poderá ser integrada a outros sistemas, como o genoma da planta no Genebank [base de dados pública de seqüências de DNA] e artigos no Pubmed [base de artigos científicos]", afirmou Vanderlei Canhos, coordenador do projeto no Cria.


"Checklist"

O trabalho, dizem os pesquisadores, é o ponto de partida para um projeto mais ambicioso, que é uma listagem de todas as espécies da flora brasileira, uma espécie de "Flora Brasiliensis 2". "O Brasil tem uma lacuna em conhecimento. Outros países da América Latina têm um "checklist" da flora; o Brasil não tem", disse Shepherd. Uma das inovações possíveis de uma futura listagem é o formato "wiki", no qual internautas poderiam contribuir com informações sobre nomes populares ou a distribuição geográfica de uma planta. Esses dados seriam analisados por especialistas e, se verdadeiros, incluídos na base de informações.




Ilustração da Opuntia Brasiliensis na "Flora Brasiliensis" de Von Martius.

Créditos: Philippe Faucon



Shepherd admite, no entanto, que essa é uma idéia para longo prazo. No momento, ele e seus colegas estão às voltas com o pesadelo de atualizar os milhares de nomes científicos de plantas da obra de Von Martius, trabalho que levará cinco anos. "Muitos nomes na "Flora" são diferentes dos nomes pelos quais as plantas são conhecidas hoje", diz o botânico. Há também plantas descritas duas vezes ou mais ao longo das décadas: uma única família, a Bignoniaceae, tem 4.000 nomes para 800 espécies.


Nota do Managing Editor: este texto é de autoria de Cláudio Angel, Editor de Ciência do Jornal Folha de São Paul, publicado no Caderno Ciência, em 08 de março de 2006. As ilustrações, aqui apresentadas, não fazem parte do texto original e foram obtidas em www.google.com.br.

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