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Fiocruz desenvolve medicamento para combate à anemia.

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Far-Manguinhos) da Fiocruz aprimorou a fórmula do sulfato ferroso - substância prescrita no combate e prevenção da anemia -, e desenvolveu um medicamento mais agradável ao paladar. O sabor laranja, o aspecto amarelo-claro, a consistência de mel fino e a nova concentração fazem do xarope de sulfato ferroso um produto ideal para crianças. O gosto de metal e aspecto escuro do produto, tradicionalmente utilizado na rede de saúde, são os maiores entraves para a assimilação do medicamento.

"As crianças não aceitam bem o sulfato ferroso que, com o tempo, vai ficando esverdeado. Essa é uma queixa freqüente das mães", diz a médica Elyne Montenegro Engstrom, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) e do Instituto de Nutrição Annes Dias, instituições que solicitaram ao Far-Manguinhos o desenvolvimento do novo medicamento, que será aplicado em programa de combate à anemia elaborado pela Prefeitura do Rio de Janeiro e pelo Ministério da Saúde.

O xarope de sulfato ferroso é composto de frutose e vitamina C, substância que auxilia na absorção do medicamento pelo organismo. O produto desenvolvido por Far-Manguinhos difere dos disponíveis no mercado, como ressalta a analista de pesquisas, Andréa Nóbrega. "Não há nenhum outro com essa concentração e paladar". A apresentação mais comum do sulfato ferroso na rede pública de saúde é feita em comprimidos, difícil de ser ingerido por crianças de até dois anos de idade, as mais vulneráveis à síndrome. "A faixa etária até 2 anos é de grande vulnerabilidade biológica à anemia. Isso porque a criança tem um crescimento acelerado e o ferro ingerido na alimentação é insuficiente para repor as necessidades dessa fase", diz Elyne, que acompanhará o programa de combate à anemia da prefeitura do Rio, sobre o qual prepara sua tese de doutorado. A distribuição em seis postos municipais de saúde já começa na segunda semana de maio. O frasco de 100 ml de xarope, com copinho para a dose, custará em torno de R$ 2.


Embalagens contendo o novo medicamento.


No Brasil, as taxas de anemia são muito altas. Especialistas estimam que 50% a 70% da população infantil nessa faixa etária são atingidas pela anemia. A comparação com outros países mostra taxas discrepantes. Nos Estados Unidos, essa taxa cai para 2%. Preocupado em reverter esse quadro, o Ministério da Saúde (MS) montou um grupo de trabalho com especialistas de todo o país. "O combate à anemia será uma das prioridades do ministério para este ano", adianta a consultora da Coordenação-geral da Política de Alimentação e Nutrição do MS, Patrícia Gentil. Uma campanha nacional será encampada pelo ministério até meados deste ano.

Embora a anemia esteja associada a crianças com menor acesso à alimentação equilibrada e rica em ferro, ela atinge crianças de todas as classes sociais devido à vulnerabilidade biológica própria da faixa etária. Por isso, a anemia é conhecida como uma "doença democrática". Durante o período de maior risco - entre seis e 15 meses de vida - é fundamental a administração do sulfato ferroso. O tipo mais comum de anemia é a por deficiência de ferro - anemia ferropênica ou ferropriva. O ferro é vital ao organismo. Ele é indispensável à produção de hemoglobina, carregador de oxigênio dos glóbulos vermelhos do sangue (hemácias). É, portanto, um elemento essencial para o transporte de oxigênio no organismo, o metabolismo oxidativo e o crescimento celular.

O sulfato ferroso em xarope desenvolvido por Far-Manguinhos está em fase de certificação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Assim que aprovado, será produzido amplamente para suprir os programas de combate à anemia. A expectativa dos profissionais de saúde e dos idealizadores do projeto em torno da produção do sulfato ferroso é grande. "Acredito que ele terá um grande impacto ao melhorar a aceitação, ainda mais porque será barato, mantendo-se a qualidade", avalia Elyne. A produção de Far-Manguinhos suprirá uma lacuna da indústria farmacêutica privada, que não tem como prioridade a produção da substância, conforme explica Andréa Nóbrega, integrante da equipe que desenvolveu o produto em Far-Manguinhos. "O sulfato ferroso é um produto muito barato, por isso o retorno é baixo e os laboratórios preferem investir em novas drogas".

Embora "democrática" na população infantil, a anemia atinge com mais freqüência à população de baixo poder aquisitivo que, seja por questão de hábitos alimentares, falta de informação e de recursos financeiros, mantém uma alimentação não saudável e balanceada. A prevenção e controle da anemia são um dos enfoques de Far-Manguinhos, cuja missão é servir a políticas de saúde do país, desenvolvendo pesquisas e produzindo medicamentos, sobretudo no combate a doenças negligenciadas.


Impacto do xarope.

O medicamento foi desenvolvido por Far-Manguinhos por solicitação de profissionais da Ensp e do Instituto de Nutrição Annes Dias, da Prefeitura do Rio. A equipe do Instituto, junto com Far-Manguinhos, produziu um lote experimental de sulfato ferroso em xarope, que foi experimentado num teste sensorial por crianças da Creche Chico Bento, em Manguinhos. Com ajuda de crecheiros e mães, a equipe verificou uma boa aceitação do medicamento. "Com o sulfato ferroso tradicional, a aceitação era mais difícil, as crianças faziam cara feia", conta Elyne.

A anemia prejudica o crescimento, o desenvolvimento motor, cognitivo, a linguagem e a memória. "Ela ainda debilita o sistema imunológico, favorece infecções, doenças e em gestantes, está associada a complicações como o parto prematuro. Também diminui a capacidade do trabalho em adultos", enfatiza Elyne.

Em uma segunda etapa, o Instituto Annes Dias, a Ensp e Far-Manguinhos realizarão um projeto piloto para comparar a efetividade das doses semanais e diárias na prevenção da anemia, utilizando o novo xarope. Seis unidades de saúde da prefeitura foram sorteadas aleatoriamente. Os profissionais de saúde foram treinados e as crianças de seis meses a 2 anos atendidas nessas unidades receberão o xarope, além da orientação alimentar para prevenção da anemia; ao final será realizada uma avaliação através da dosagem de hemoglobina. A médica Elyne, que participará do projeto, elaborará um estudo no qual verificará a forma mais efetiva e de menor custo para o programa. "Também esperamos melhorar a adesão, estimulando o uso do sulfato ferroso e avaliando os possíveis efeitos adversos do uso continuo do ferro".

Além da suplementação preventiva com ferro, outra medida eficaz no combate à anemia é a fortificação alimentar. Para Elyne, é a estratégia de prevenção mais sustentável para o país. "Nos Estados Unidos, vários alimentos são enriquecidos com ferro. Essa medida fez com que o país alcançasse a taxa mínima de 2% de crianças anêmicas". A Anvisa aprovou a resolução número 344, de 13 de dezembro de 2002, que regulamenta a fortificação de farinha de trigo e de milho, com ferro e ácido fólico, fortificando, conseqüentemente, todos os derivados como pães, bolos e biscoitos. "Mas, considerando as altas taxas de anemia em nossa população, até que os alimentos fortificados estejam na mesa dos brasileiros, é importante que todas as crianças na faixa etária vulnerável, assim como bebês prematuros, recém-nascidos com baixo peso e gestantes usem o sulfato ferroso para prevenção", ressalta a médica.


Educação alimentar.

Com ou sem medicamento, a alimentação não pode ser descuidada, sobretudo para os grupos de maior risco. Beterraba e espinafre, ao contrário do propagado, "não são os alimentos mais ricos em ferro", diz Elyne. A dieta rica em ferro deve contemplar o consumo de carnes, fígado, rim, coração, frango, peixe, feijão, verduras, como agrião e couve.

Alimentos que aumentam a absorção do ferro, como os que contêm vitamina C, como laranja, limão, acerola, abacaxi e caqui também devem ser priorizados. "Não se deve ingerir junto a refeições mates, chás, cafés, leite, refrigerantes, pois prejudicam a absorção do ferro pelo organismo", diz Elyne. Já sucos cítricos e frutas facilitam a absorção. "É preciso incentivar nas crianças o hábito de uma dieta alimentar saudável, colorida e variada. É bom para a saúde e previne doenças".

Nota do Managing Editor: Este texto, de autoria de Thais Aguiar da Assessoria de Comunicações da Fiocruz, foi também veiculado no portal da Agência Brasil http://www.radiobras.gov.br.

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