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ARTIGOS DE OPINIÃO

Cenário das Tecnologias-chave para 2015.



Motivação

Vários países têm trabalhado com cenários para os anos vindouros visando à elaboração de políticas, sejam elas de C,T&I ou de comércio exterior, como portadoras de futuro.

Nos estudos em questão, uma pergunta é recorrente: quais as tecnologias-chave que permitem garantir vantagens competitivas, em termos mundiais, considerando um horizonte 2010-2015? Os franceses fizeram esta pergunta capital e as respostas fazem parte do estudo prospectivo "Tecnologias-Chave 2010", recentemente apresentado pelo Ministério da Indústria daquele país.

Não obstante sociedade e indústria brasileiras terem características bastante diferentes da francesa, consideramos que tais informações possam ser de valia para o aumento da percepção, por parte dos interessados, do que acontece no mundo em termos de tecnologia, tendo como pano de fundo o fenômeno de mundialização e a inter-relação dos diferentes países.


Resultados

Segundo o relatório, é identificado um total de 83 tecnologias, que abarcam os seguintes setores: tecnologias da informação, tecnologias da vida, novos processos de produção, materiais e química, construção, energia, transportes e meio ambiente. O documento sublinha que muitas das tecnologias descritas são conhecidas, embora tenham "progredido de maneira insuficiente nos últimos anos", dentre elas as de bombas de calor, os motores a base de pistões, ou mesmo as máquinas-turbo, tecnologias estas que apresentam, portanto, um forte potencial de evolução.

Como critério para o status de "tecnologia-chave", os autores do estudo consideraram que a mesma teria que "ter a capacidade de atuar estruturalmente sobre a competitividade e a atratividade", dentro do cenário da França. Cabe aqui o primeiro destaque: das 83 tecnologias apresentas, 17 estão ligadas à tecnologia da informação. Tal número não parece tão surpreendente, quando consideramos que este setor contribui com 40% do crescimento da produtividade da comunidade européia.

Um aspecto interessante trazido pelo documento se relaciona à importância do conhecimento sobre sistemas complexos. Tal constatação está no bojo da linha de argumentação que considera que um número cada vez mais crescente de países - inclusive os chamados emergentes -, vem adquirindo capacidade de dominar as bases tecnológicas que permitem a construção de componentes eletrônicos ou telas planas, vindo, inclusive, a ser constituir, em alguns casos, em "players" mundiais. "Num tal contexto, os países ocidentais, e a França em particular, não podem permanecer competitivos a não ser que satisfaçam a condição de colocar em ação o controle dos sistemas complexos".

As tecnologias-chave, identificadas como as mais importantes para 2010, estão inscritas dentro de um cenário em grande parte marcado por um número elevado de desafios, podendo ser entendidas como respostas aos fundamentos que estruturarão o mundo de amanhã, asseveram os autores.


São estes os desafios colocados neste estudo:

  • problemas de segurança ligados ao contexto geopolítico;

  • mudanças climáticas;

  • reservas de água;

  • desafios energéticos (produção e controle do consumo);

  • disponibilidade de matérias-primas;

  • envelhecimento demográfico;

  • emprego e competitividade econômica.



Destaques

Como pontuamos anteriormente, nota-se certa insistência - aliás, pela primeira vez neste tipo de estudos -, sobre os sistemas complexos. Tais sistemas poderiam incluir tecnologias não só desenvolvidas na França, como no exterior. São citados os seguintes desenvolvimentos: reator nuclear de terceira geração EPR (European Pressured Reactor); trem rápido (TGV- Train à Grande Vitesse) silencioso para velocidades da ordem de 350 km/h; avião mais econômico e silencioso; veículos automatizados; um sistema "inteligente" para rodovias; base de dados em rede (de altíssima taxa de transmissão) móvel e de baixo custo; uma "fábrica de softwares" (produção de "componentes de softwares" reutilizáveis em diversos programas de informática); tecnologia de autenticação visando à luta contra as falsificações, pirataria, etc.

Na seqüência, apresentaremos alguns destaques considerando os setores já mencionados.


Energia e Meio Ambiente

Neste setor é sugerido o desenvolvimento de sistemas fotovoltaicos e eólicos com estocagem de eletricidade integrada; combustíveis obtidos via síntese química ou uma central de energia à base de carvão, que também tenha capacidade de capturar e estocar o gás carbônico.


Tecnologias da Vida

O destaque fica para as terapias celulares e gênicas ao lado das quais é proposto o desenvolvimento de novas gerações de vacinas obtidas por engenharia genética visando combater a AIDS, a malária, a tuberculose e o câncer.


Tecnologias da informação e relacionados

Os sistemas de gestão das "microenergias" utilizadas em telefones celulares, computadores portáteis, MP3, máquinas fotográficas, etc., representam mercados consideráveis, da mesma maneira que os novos instrumentos de armazenamento de dados e de ativação por radiofreqüência (RFID - Radio Frequency Identification).

O mercado mundial relacionado com "memórias voláteis" do tipo DRAM (Dynamic Random Access Memory), utilizadas nos computadores, é estimado em mais de 30 bilhões de dólares. No que diz respeito à tecnologia RFID, é esperado um montante de 4 bilhões de dólares, já em 2008. Quanto à questão da segurança dos sistemas de informação, os números esperados são de 50 bilhões de dólares, com um crescimento de 15% ao ano.

A pesquisa e desenvolvimento na área de softwares para sistemas embarcados devem explodir nos próximos anos. Para esta área é esperado um mercado mundial de 155 bilhões de dólares, em 2015, privilegiando os setores de aeronáutica, automobilístico, automação industrial, instrumentos e equipamentos médicos e para saúde, telecomunicações e eletrônica de lazer.


Novos processos de produção, materiais e química

O relatório reitera a grande importância do desenvolvimento de "nano-objetos", tais como partículas, fibras e tubos, dada sua característica de setor emergente, com amplas possibilidades de aplicações que vão desde a indústria farmacêutica até as políticas públicas, passando pela biotecnologia aplicada à produção de produtos químicos e energia.


Construção

Neste setor, o relatório cita os materiais compósitos à base de materiais reciclados e a biomassa para a construção e integração das energias renováveis.


Considerações

A despeito do relatório apresentar importante conjunto de dados que, certamente, permite ao leitor avaliar as preocupações, entender as demandas e mercados, e, sobretudo, visualizar os novos desenvolvimentos, dentro de uma ótica francesa, mas que tem muito a ver com a Europa e com o mundo, tem sido apontado que o mesmo não aborda as chamadas "tecnologias sensíveis", uma vez que estas estão diretamente ligadas à defesa nacional. Dentre elas estão as pilhas a combustível, para submarinos, os foguetes, ou mesmo certos materiais que resistem a condições extremas, tais como elevadíssimas temperaturas.

Pode ainda ser observado que o estudo não aborda tecnologias para as quais o horizonte 2010 se afigura como muito curto. Destacamos aqui a obtenção de energia nuclear de quarta geração, novas terapias médicas envolvendo a apropriação do conhecimento nanotecnológico ou ainda os computadores quânticos. É quase certo que estas tecnologias serão tratadas em novo documento francês sobre as "Tecnologias-chave 2020".

Acreditamos que uma qualidade intrínseca deste estudo seja o recado bem claro que ele passa, ou seja: sem dúvida, ciência, tecnologia, inovação e setor produtivo constituem, em países desenvolvidos e emergentes, uma espécie de quarteto indissociável e, quase sempre, muito virtuoso.


Nota do Managing Editor: este texto - baseado em informações tornadas públicas por François Loos, Ministre Délégué à l' Industrie da França, está disponível no endereço www.industrie.gouv.fr/liste_index/2010.html e matéria distribuída pela Agência Reuters, publicada pela mídia francesa, tais como o jornal Libération, de 18 de setembro de 2006 (www.liberation.fr) -, foi editado (tradução, compilação e comentários) por Oswaldo Luiz Alves, Editor Científico do LQES NEWS.

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