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ARTIGOS DE OPINIÃO

A universidade e a inovação.

O Brasil descobriu a tecnologia nos anos 50, com o CNPq, o ITA e o CTA. Nos anos 60, as grandes reformas de Castello Branco resultaram, entre outros avanços, na criação da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas), incumbida de ser a perna tecnológica do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Nos anos 80, perdeu-se o rumo. No final dos anos 90 começou a retomada, com a criação dos fundos setoriais. Mas é só o primeiro passo.

Se o governo Lula pretender, de fato, construir uma política de inovação, tem que atentar para os seguintes pontos que procurei apresentar ontem, na Unicamp, na mesa que discutiu "Políticas para o Desenvolvimento Tecnológico e Inovação", no seminário de lançamento da Agência de Inovação da Unicamp, iniciativa das mais importantes.

Tem-se um ativo relevante, representado por uma massa crítica de pesquisadores, Ph.D.s. Tem-se a adesão da elite acadêmica e empresarial à tese da importância da inovação. Finalmente, existem recursos, mesmo contingenciados, por meio dos fundos setoriais.

O que falta? A multiplicação das inovações e a disseminação dos novos paradigmas, especialmente no universo das pequenas empresas trabalhando em áreas de baixa densidade tecnológica.

Há uma disputa intestina pelos recursos dos fundos, entre grupos acadêmicos e entidades empresariais organizadas. Há a ambição de se prospectarem as chamadas "fronteiras do conhecimento". Mas não se discute adequadamente a maneira de se disseminar os conceitos de inovação pelo corpo social e econômico do país. Todo modelo passa por parques tecnológicos, incubadoras, pesquisa de ponta, em suma, o ambiente sob controle dos pesquisadores. Não pode ser assim.

Não se tirem da universidade as pesquisas avançadas nem a busca de novos conhecimentos. Nem o país pode abrir mão de estudar as novas tecnologias para tentar se incorporar à próxima onda. Mas onde ficam os pequenos e médios empresários em setores de baixa densidade tecnológica? Nesse campo, a relação real investido versus resultado alcançado deve ser muito mais expressiva do que nas áreas de alta tecnologia.

Tempos atrás, um pesquisador do IPT contava como conseguiu, com meio dia de trabalho, resolver o problema de uma pequena indústria metalúrgica. Ótimo! Só que essa pesquisa poderia ter beneficiado milhares de pequenas empresas com o mesmo problema, mas ficou restrita àquela empresa.

Não se pode exigir da universidade o que não está ao seu alcance. Mas, para que cumpra o papel social e econômico que o país espera dela, algumas medidas preliminares são essenciais.

O primeiro é cada grande instituto de pesquisa destinar parte de seus recursos para desenvolver soluções simples para setores de baixa densidade tecnológica. Depois, com Sebrae e companhia, pensar em modelos de multiplicação do conhecimento, que não fiquem restritos aos "clusters" regionais. Na era da Internet, inovações precisam ser compartilhadas com todo o país. Por isso mesmo, essas inovações têm que estar apresentadas em bancos de dados acessíveis a leigos.

A Itália explodiu quando o conceito de inovação se entranhou em todo o seu organismo social.

Nota do Managing Editor: O presente texto, de autoria do articulista Luís Nassif, foi primeiramente publicado na Folha de São Paulo, em 16 de maio de 2003, na Seção Luís Nassif (luisnassif@uol.com.br).

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