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ARTIGOS DE OPINIÃO

Mecenato e o apoio à Ciência no Brasil.


A história da arte no mundo está recheada de exemplos marcantes para o seu desenvolvimento via a atividade de mecenato. Os exemplos são numerosos e podem ser sintetizados no apoio dos Médici, na Itália, no período renascentista.

No campo da Ciência, esta atividade é mais recente, tendo seu apogeu a partir de 1913 graças às ações da família Ford e Rockfeller nos Estados Unidos e, mais recentemente, por Bill & Melinda Gates, Howard Hughes e muitos outros. Na Suécia, destaco a importante ação da Fundação Wallenberg.

No Brasil, esta atividade infelizmente ainda tem sido pequena e quase sempre fruto de uma decisão de algumas pessoas que, mesmo sem incentivo por parte da Receita Federal, acreditam no potencial da Ciência e da Tecnologia para o desenvolvimento nacional.

Certamente cometendo injustiças, menciono alguns exemplos marcantes. Primeiro, Dom Pedro II, que estimulou pesquisas no Brasil e no exterior (contribuiu significativamente para o Instituto Pasteur de Paris), sendo que, no Brasil, foi responsável pela criação de vários institutos agronômicos distribuídos por todo o país.

Menciono ainda Guilherme Guinle, que a partir de 1920 apoiou de forma significativa projetos desenvolvidos por Evandro Chagas, Carlos Chagas Filho e Walter Oswaldo Cruz, tanto no Instituto Oswaldo Cruz como na criação do Instituto de Biofísica da UFRJ, concedendo recursos para compra de vários equipamentos. Walter Moreira Salles também tem contribuído para vários projetos da mesma instituição.

Destaco ainda a Fundação Conrado Wessel, que tem reconhecido a contribuição dada por pesquisadores brasileiros com prêmios concedidos anualmente.

Esta curta introdução é para mencionar uma iniciativa mais recente e que, pela sua importância, merece ser destacada. Refiro-me à iniciativa de mais um representante da família Moreira Salles, desta vez o documentarista João Moreira Salles e sua esposa Branca Moreira Salles, que criaram este ano o Instituto Serrapilheira, como instituição privada sem fins lucrativos, com uma doação inicial de R$ 350 milhões constituindo um fundo cujos rendimentos serão aplicados em apoio a projetos de desenvolvimento científico e tecnológico altamente inovadores, desenvolvidos sobretudo por jovens pesquisadores e que possam ampliar a presença de artigos brasileiros nas revistas científicas internacionais de maior visibilidade.

O primeiro edital do novo Instituto foi lançado em julho último visando apoiar até 100 projetos de até R$ 100 mil por projeto para apoio, por um ano, a propostas nas áreas de Ciências da Terra, Ciências da Vida, Ciência da Computação, Engenharias, Física, Matemática e Química. A chamada visou apoiar jovens pesquisadores, com doutorado defendido a partir de 2007.

Uma característica ímpar do edital foi o fato de que a seleção se baseou “mais no que os pesquisadores são capazes de fazer do que o que eles fizeram no passado”, com grande ênfase na qualidade do projeto apresentado.

Cerca de 2 mil propostas foram apresentadas oriundas de 331 instituições localizadas em 26 unidades da federação, sendo que apenas cinco estados apresentaram acima de 100 propostas: São Paulo (497), Rio de Janeiro (331), Minas Gerais (257), Paraná (144) e Rio Grande do Sul (115), o que reflete a posição de vanguarda destes estados na ciência brasileira.

No que se refere às áreas do conhecimento houve um grande predomínio de projetos na área das Ciências da Vida (60%). Foram selecionados 65 projetos para financiamento inicial, o que representa cerca de 3,5% das propostas apresentadas.

Algumas instituições tiveram excelente desempenho, com destaque para a USP (8), UFRJ (6), UFRN e Cenepen (5), PUC-RJ, UFCE e Unicamp (3). Estes dados vão apontando as instituições atualmente mais competitivas da Ciência brasileira. Destaco aqui as presenças da UFRN e da UFCE nesta seleta lista, o que é mais uma demonstração de que a qualidade da Ciência brasileira está sendo gradualmente descentralizada.

Finalmente, baseado na experiência da família Moreira Salles, cabem duas sugestões. Primeiro, que outras famílias sigam o mesmo caminho criando fundos para apoio à pesquisa científica e tecnológica. Segundo, que a Receita Federal crie um mecanismo que permita a dedução de parte do imposto de renda que for direcionado para apoio à atividade científica.

Monitor Digital. Posted: Jan 10, 2018.


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