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Brasil precisa investir mais em microeletrônica, diz pesquisador da Unicamp

A importação de componentes e equipamentos eletrônicos contribui para um déficit de cerca de US$ 8 bilhões, por ano, na balança comercial brasileira. A informação é do pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp), Jacobus Willibrordus Swart, para quem este é um forte motivo para que o país invista em inovação e competitividade no setor. Além disso, o mercado de microeletrônica movimenta mundialmente em torno de US$ 1 trilhão por ano e é um dos segmentos que mais cresce no mundo, tendo apresentado incremento de 17% anual, em média, nas duas últimas décadas.

A despeito disso, observa o pesquisador, o país não fabrica hoje um único chip ou circuito integrado (CI) completo. As indústrias nacionais limitam-se a importar componentes para a montagem de equipamentos, situação que, se não for revertida, condenará a nação ao atraso e ao crescente déficit da balança comercial. Para Swart, que coordena o Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), o país precisa investir no setor para se inserir na economia globalizada. "É hora de o Brasil acordar e decidir se quer continuar sendo um país periférico ou se deseja participar ativamente da economia globalizada", afirma.

Swart lamenta que as tentativas de impulsionar o setor não tenham saído do papel. Até mesmo o Programa Nacional de Microeletrônica, lançado em julho de 2001 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), ainda não surtiu qualquer resultado prático. Segundo ele, várias universidades que participam do programa pediram ao MCT, em caráter emergencial, 95 bolsas de mestrado e doutorado. Os recursos, no total de R$ 2,36 milhões, para quatro anos, só serão liberados no próximo mês. "É preciso ficar claro que isso servirá apenas para tapar buraco. Independentemente dessa iniciativa, o país continuará carecendo de uma política de desenvolvimento mais densa e duradoura para a área", afirma o especialista.

O mercado potencial de componentes semicondutores no Brasil é de US$ 5,5 bilhões, segundo cálculos da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). No entanto, não existe no país nenhuma fábrica produzindo circuitos integrados. Os equipamentos eletrônicos são produzidos com chips e a aplicação desses componentes tem sido ampliada fortemente. Eles estão presentes no forno de microondas, na geladeira, no sistema de iluminação residencial e no automóvel. Muitas fazendas voltadas para a criação de gado controlam o plantel com a ajuda da microeletrônica. Cada animal tem um chip que armazena seu histórico. "O chip é cada vez mais importante como base econômica. Não estamos em condições de desprezar um segmento tão estratégico. O desenvolvimento da microeletrônica gerará empregos e riquezas para o país, o que certamente trará ganhos sociais", argumenta.

Algumas empresas nacionais dedicam-se, no máximo, ao encapsulamento do chip ou à produção de componentes discretos. Há unidades voltadas para o desenvolvimento de projetos, mas que não têm vínculo com a inovação tecnológica propriamente dita. "São segmentos importantes, mas que não asseguram ao país o domínio da tecnologia", pondera Swart. De acordo com o especialista, o projeto de microeletrônica, criado pelo MCT, precisa ser colocado em prática, para que haja recursos suficientes à ampliação do mercado nacional e à formação de pessoal especializado.

O interesse em promover pesquisas sobre componentes eletrônicos foi afetado pela ausência da produção de chips na indústria. Poucas instituições têm investido nessa área. Unicamp e Universidade de São Paulo (USP) são algumas delas. "Na Feec, produzimos chips em nível acadêmico, com estruturas micrométricas. Também realizamos, em laboratório, pesquisas em dimensões submicrométricas. Mas, infelizmente, ainda não temos quem fabrique esses chips em escala industrial", lamenta o pesquisador.

Segundo Swart, é preciso derrubar alguns tabus, como a crença de que só países desenvolvidos são capazes de dominar esse tipo de tecnologia e a falácia de que uma fábrica de semicondutores é muito cara. Swart lembra que unidades que produzem microprocessadores exigem, de fato, mais investimentos, no entanto, seu alvo são os grandes mercados. Na opinião do especialista, é possível criar fábricas menores que não exijam a adoção de tecnologias de ponta. Ele sugere a formação de consórcio entre empresas e centros especializados para investir na área de pesquisa e desenvolvimento, experiência que deu certo em outros países.

Nota do Managing Editor: Matéria de Lana Cristina, Agência Brasil ABr, 29 de novembro de 2002. (Com informações contidas no Jornal da Unicamp)

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