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IUPAC 2017 e os desafios da química.

Em 2017, o Brasil vai receber um importante evento do cenário científico global: o Congresso Mundial de Química da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC, na sigla em inglês), que será realizado pela primeira vez na América Latina. A conquista é fruto do trabalho da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), que vem atuando fortemente para promover essa ciência em todo o país, principalmente entre os jovens. Em uma mesa-redonda coordenada pelo presidente da SBQ e ex-membro afiliado da ABC, Adriano Andricopulo, foram discutidos os desafios e oportunidades para o Brasil nessa área.

Andricopulo ressaltou o fato de o primeiro Congresso Mundial de Química ter acontecido em 1919, em Paris, e, quase 100 anos depois, a América Latina e a África ainda não terem sediado o evento. "Queremos trazer de seis a oito laureados com o Nobel para o congresso, assim como, todo ano, temos trazido um Nobel para participar da Reunião Anual da SBQ", comentou.


Iniciativas bem sucedidas

O Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade, secretário do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ex-presidente da SBQ, lembrou as atividades realizadas no país pela sociedade durante o Ano Internacional da Química (AIQ), que aconteceu em 2011. Uma delas foi produzir kits de química, distribuídos entre estudantes, e a medição do pH da água por crianças, como parte de um experimento mundial com o objetivo de determinar o "pH do planeta". "O Brasil contribuiu com 1/3 das informações coletadas. Foi o país com a maior mobilização", comemorou.

"Agora, estamos empenhados em outra grande ação", informou Andrade. Em setembro, acontecerá um eclipse lunar. A intenção do Acadêmico é preparar, junto ao Sistema de Tecnologia de Informação do MCTI, uma mobilização para que os jovens, principalmente, tirem fotografias do eclipse em todo o Brasil e mandem suas fotos para o site que será elaborado. Depois, o objetivo é exibir na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) como o país viu o eclipse.

Andrade citou outra iniciativa, o projeto "Química sem Fronteiras", elaborado em 2012 junto à revista Química Nova. Esse projeto consistia em pessoas convidadas escrevendo sobre grandes temas: educação em todos os níveis; vida (incluindo fármacos e medicamentos); matérias primas e materiais (incluindo nanociência e nanomateriais); biodiversidade (incluindo recursos naturais não minerais); energia, água, alimentos e ambiente; inovação e indústria química. O trabalho foi publicado em 2013 e configurou a contribuição da SBQ para o Fórum mundial de Ciências (WSF), realizado naquele ano no Rio de Janeiro.

O Acadêmico destacou que, em setembro, acontecerá o primeiro evento preparatório formal para o congresso da IUPAC. "Teremos a participação de quase todos os ex-presidentes da SBQ, menos quatro - dois por já terem falecido, dois por não conseguirem conciliar a agenda." Ele disse, ainda, que todos serão convidados a contribuir com os eventos preparatórios. "A ideia é que as contribuições tenham uma visão de futuro, para 2017 e além."


O caminho para se tornar sede do congresso da IUPAC

O Acadêmico Fernando Galembeck, que também presidiu a SBQ e é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explicou a história da relação entre o Brasil e a IUPAC. A Associação Brasileira de Química (ABQ) se afiliou à associação internacional em 1923, virando representante nacional. Mas, em 1982, a fórmula para cálculo das anuidades mudou, e passou a ser baseada no PIB. O do Brasil era elevado, o que obrigava o país a pagar anuidades bastante altas. A ABQ, então, solicitou ao CNPq que pagasse a anuidade e pediu perdão à IUPAC da dívida de três anos que tinha.



O Acadêmico Jailson Bittencourt, ex-membro afiliado da ABC Adriano Andricopulo, o Acadêmico Fernando Galembeck e o presidente da Abiquim, Fernando Figueiredo.

Em 1988, foi criado um comitê (CABQ), do qual fazia parte a Abiquim, ABQ e SBQ e, depois, a ABP (Associação Brasileira de Polímeros). Em 1999, o CBAQ passou a ser a organização brasileira credenciada junto à IUPAC. Em 2005, o Brasil deixou de pagar as anuidades. Em 2009, o país quitou suas dívidas e recuperou o status de membro da associação internacional e, em 2013, pôde pleitear ser sede do Congresso Internacional de Química e da Assembleia Geral da IUPAC.

Foi Galembeck quem fez a apresentação de defesa da candidatura brasileira, em Istambul. "O oponente era Melbourne, uma das cidades mais bem cotadas para se viver no mundo. Imaginem, defender São Paulo contra Melbourne", brincou. "Tive que buscar argumentos. Um deles foi estrutura." O Acadêmico mostrou uma tabela com os voos internacionais diretos pra São Paulo e, em seguida, o mapa do metro da cidade. Outro mapa mostrava que o Brasil efetivamente participava das atividades da IUPAC - o equivalente a 28% - e a Austrália, ao contrário, não tinha tanta participação.


A química no Brasil

Galembeck afirmou que um desafio foi vencido: a produção química mudou a imagem de vilã, nos anos 80-90, à de salvadora, nos dias de hoje. "Há uma correlação entre posição do PIB e o produto químico dos países, mas há algumas exceções. É o caso do Brasil, que tem um produto químico baixo e a 8ª posição do PIB (2009). No entanto, o produto químico estava subindo na época, e isso pode explicar. Se quer saber como está a economia de um país, veja como está o seu produto químico.

Ele mencionou, também, a necessidade de lidar com o desafio geral que o mundo enfrenta. O aumento da população global e a inclusão social exigem cada vez mais alimentos, energia e materiais, e os recursos naturais tornam-se cada vez mais escassos. "É previsto um colapso em 2030." Galembeck ressaltou que precisamos inovar com novas soluções, conhecimento e atitudes. "Precisamos de nanotecnologias, que aproveitam muito melhor os recursos escassos. No entanto, os PLs 6741/13 e 5133/13 preveem a paralisação de todas as pesquisas de nanotecnologia [saiba mais aqui]. O Brasil não aproveita a sua biodiversidade por causa da legislação, dando multas multimilionárias para empresas inovadoras."


O potencial da indústria química brasileira

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Químicas (Abiquim), Fernando Figueiredo, enfatizou que o Brasil tem uma vocação natural para a indústria química: "O país tem petróleo, gás, minerais e terras raras, temos que colocar isso na cabeça dos jovens e do governo." É preciso, no entanto, mudar a atitude. Ele deu o exemplo do quartzo, material utilizado para silicone que é a base de produtos de altíssima tecnologia. "O Brasil exporta todos os produtos de derivados de silicone. Não dá para continuar assim."

Figueiredo informou que o país é a 6ª maior indústria química do mundo e a química corresponde a 10% do nosso PIB industrial. "Fomos ultrapassados dois anos atrás pela indústria automobilística, porque ela recebe muitos incentivos." Ele mencionou que esse é o segundo setor que mais causa dinamismo na economia, ficando atrás apenas do petróleo, cuja base também é a química.

"Uma indústria química forte precisa de matéria prima competitiva, energia, infraestrutura e logística, investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e qualificação da mão de obra", alertou Figueiredo. Ele comentou, ainda, que o mercado brasileiro de cosméticos cresce três vezes mais que a média mundial e, em defensivos agrícolas, crescemos mais que duas vezes em relação ao resto do mundo. No entanto, os defensivos agrícolas e fertilizantes correspondem à metade do déficit da balança comercial brasileira na área química. "Nós importamos produtos que deveríamos fabricar aqui."

O palestrante fez questão de mencionar grandes inovações da química, como corantes sintéticos, fertilizantes nitrogenados e aspirina, do século 19; penicilina, sulfa, defensivos agrícolas orgânicos e polímeros, do século 20; e nanotecnologia e biotecnologia, do século atual.

"Na maioria dos setores que são os maiores desafios para os próximos 15 anos, o Brasil tem tudo para ser líder mundial: produtividade agrícola, recursos naturais, energia solar, entre outros", avaliou. O futuro também exigirá, segundo o presidente da Abiquim, a adoção de práticas mais sustentáveis, aumentar a competitividade, agregar mais valor às matérias-primas e capacitar e reter recursos humanos.

Figueiredo também enumerou os setores que considera o futuro da química: aproveitamento da energia solar; procura de novos catalisadores; síntese de novas moléculas; produtos a partir da biomassa; biociências; produção de materiais mais verdes; captura de CO2; agroquímica; nanotecnologia; e novos instrumentos científicos.

"Eu não tenho a menor dúvida de que a indústria química será o setor mais brilhante da economia brasileira na próxima década, impulsionado pelas novas ondas de inovação em bio e nanotecnologias. E a química é a ciência que mais contribuirá para o desenvolvimento humano", pontuou.

O Acadêmico Etelvino Bechara, da Universidade de São Paulo (USP), que acompanhou a mesa-redonda, acrescentou, ao final das apresentações, que a educação infantil e a alfabetização científica têm um papel crucial para alavancar não apenas a indústria química e a inovação brasileira, mas também a ciência e o desenvolvimento de uma forma geral. Andrade informou que a educação, de uma forma ampla, sempre foi uma prioridade da SBQ. Ele citou, também, o documento da ABC entregue aos candidatos à Presidência da República, cujo primeiro eixo era sobre a necessidade de o Brasil precisar de uma revolução na educação.


Nota do Managing Editor - Matéria de Clarice Cudischevitch para a Academia Brasileira de Ciências, veiculada no site www.abc.org.br, em 16 de julho de 2015.



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