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Fitas adesivas escondem segredo i-nu-si-ta-do : emitem radiação X !

Fazer uma radiografia de raios X desenrolando uma fita adesiva: eis o que beira a uma dessas afirmações feitas, às vezes, por pesquisadores que se dizem independentes. Todavia, a proeza foi realizada por cientistas californianos, os primeiros a ficar surpresos com esse fenômeno profundamente misterioso.

A triboluminescência é um fenômeno bem conhecido do qual cada um pode fazer uma experiência esfregando dois pedaços de açúcar no escuro. É visível, então, uma rápida emissão de luz. Não obstante, a descoberta feita por Seth Putterman, Carlos G. Câmara, Juan V. Escobar e Jonathan R. Hird, da Universidade da Califórnia (UCLA) parece, à primeira vista, pouco menos digna de crédito do que aquela da fusão a frio. Trata-se, na verdade, da geração de raios X pelo simples descolamento de uma fita adesiva!





Fotografia realizada em 30 segundos de exposição mostra a luz visível obtida ao se desenrolar uma fita Scotch.

Créditos: Carlos Camara e Juan Escobar.



Os fótons dos raios X sendo milhares de vezes mais energéticos que aqueles da região do visível, tal emissão pareceria a priori impossível. Todavia, a observação desse estranho fenômeno não é verdadeiramente uma descoberta. De fato, a emissão de luz visível por uma fita adesiva no momento em que é descolada já era conhecida em 1939. Mas ninguém tinha levado a sério uma publicação de físicos russos, em 1953, relatando a emissão, nas mesmas circunstâncias, de raios X.

Esse ceticismo não surpreende porque, nos aparelhos de radiologia clássicos, é preciso bombardear os átomos com feixes de elétrons muitíssimo energéticos para gerar um espectro contínuo de raios X, por "frenagem" de elétrons pelos núcleos de átomos pesados, como os da platina. Em princípio, o descolamento de uma fita adesiva não deveria fazer intervir a não ser fenômenos na escala das moléculas e das camadas eletrônicas externas dos átomos, sem que as camadas mais internas fossem afetadas. Nessas condições, se esperaria, pois, que a radiação emitida se desse em comprimentos de onda longos, ou melhor, na região do visível.





Em a, a geração de uma luz por triboluminescência (vermelha). Em b, uma foto do dispositivo desenrolando sob vácuo a fita adesiva e, em c, seu esquema.

Créditos: Nature.



Conseqüências potencialmente fenomenais

Contudo, como explicam na Nature, os pesquisadores mediram séries de flashes de cerca 300.000 a um milhão de fótons X emitidos em um nanosegundo. Compreenderam, então, que essa emissão tinha uma intensidade suficiente para imagiamento médico... De modo espetacular, e como bem mostra a figura no artigo da revista, é possível obter uma radiografia de um dedo da mão!

Os pesquisadores não compreendem o que se passa, se isso não é senão uma separação de cargas, análoga àquela que se produz nas nuvens, devendo provavelmente intervir quando se descola o adesivo. Produzir-se-iam, então, espécies de mini-relâmpagos gerando "rajadas" de raios X.





A imagem do osso de um dedo é visível graças ao dispositivo inventado pelos pesquisadores para emitir raios-X.

Créditos: Carlos G. Camara, Juan V. Escobar, Jonathan R. Hird e Seth J. Putterman.


Entretanto, para fazer imagiamento médico, é preciso descolar a fita sob vácuo, sem o que o fenômeno não se reproduz. Trata-se de um meio extraordinariamente prático e pouco custoso de gerar raios X. Os pesquisadores atualmente se ocupam com descobrir todas as aplicações possíveis para esse estranho fenômeno, desafiando os cálculos teóricos.

Como se está em presença de uma concentração espetacular de energia num pequeno volume, Putterman prossegue pesquisando. Ele estima que o dia em que forem encontradas as equações que descrevam esse fenômeno, as conseqüências poderão ser enormes, tão surpreendentes quanto a obtenção da fusão a frio à baixa energia, que continua sendo ainda uma das interrogações da Física.

Futura-Sciences, 28 outubro, 2008 (Tradução- MIA).


Nota do Scientific Editor: o trabalho que deu origem a esta notícia: "Correlation between nanosecond X-ray flashes and stick-slip friction in peeling tape" - de autoria de C. G. Camara, J. V. Escobar, J. R. Hird e S. J. Putterman - foi publicado na revista Nature, volume 455 (23 outubro) págs. 1089-1092 (2008).


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