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Nanotecnologia (Nanotec 2006).

O II Congresso e Feira Internacional de Nanotecnologia (Nanotec 2006) recebeu a visita de 5 mil pessoas durante sua realização, entre os dias 6 e 8 de novembro, em São Paulo. Desse total, 400 eram participantes do congresso, onde se discutiu a presença da indústria nas atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação em nanotecnologia. Empresários, pesquisadores, engenheiros, técnicos industriais, professores universitários e estudantes de nível superior foram o público da Nanotec 2006. A feira abrigou 38 expositores, empresas, universidades, entidades empresariais e órgãos de governo, que mostraram mais de cem projetos ou produtos com nanotecnologia incorporada. Foram investidos R$ 750 mil na realização da Nanotec 2006. A empresa organizadora, RJR Eventos, comemorou o número de visitantes e também a parceria fechada durante a Nanotec entre a fabricante mineira de plásticos Mueller e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O acordo prevê o desenvolvimento de matérias-primas com aplicações nanotecnológicas a serem usadas em cabos, pára-choques e painéis, entre outros produtos.

Outro destaque da Nanotec 2006 foi o lançamento de um polipropileno que incorpora nanopartículas de prata, feito pela Suzano Petroquímica. O plástico tem resistência e vedação aumentadas. Além disso, o material, segundo a empresa, tem característica antimicrobiana. A Suzano deu aos visitantes de seu estande na feira dois produtos feitos com esse polipropileno: uma tábua de carnes e um pote para guardar alimentos.

A Suzano foi uma das patrocinadoras da Nanotec 2006, ao lado do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Foram co-promotores a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Os expositores e patrocinadores também estiveram nos 12 painéis do Congresso Internacional, realizados durante os três dias, em que o foco esteve na presença da nanotecnologia na indústria de hoje.


Pesquisador da Unicamp é destaque

Apesar de o congresso ser internacional e da expectativa em torno das palestras dos representantes da empresa Lux Research, Peter Hébert, da Lux Capital, Josh Wolfe, e de David Fyfe, diretor-presidente da Cambridge Display Technology Limited (CDT), que trouxeram uma visão mais global da nanotecnologia e suas aplicações, o nome mais citado nos corredores e nos painéis do congresso foi o do pesquisador do Instituto de Química (IQ) da Unicamp Fernando Galembeck, apontado como exemplo de trabalho de parceria entre universidade e empresa. A Sociedade Brasileira de Química (SBQ) criou, este ano, um prêmio com o nome do pesquisador.

Galembeck é o pesquisador parceiro da Orbys no desenvolvimento do Imbrik. Também é responsável pelo projeto do Biphor, produto criado em um trabalho de pesquisa e desenvolvimento conjunto do IQ com a Bunge, multinacional que atua no setores de fertilizantes, agronegócio e alimentos. O Biphor é um pigmento branco para tintas à base de água, fabricado a partir de nanopartículas de fosfato de alumínio. Seu uso permite a fabricação de tintas mais duráveis, com melhor desempenho e a custos mais baixos, e não é tóxico. A Bunge pretende ocupar 10% do mercado até 2010, uma fatia estimada em US$ 500 milhões. O pesquisador se tornou uma referência no assunto cooperação universidade-empresa, quando se trata de incorporação de nanotecnologia a produtos.

No II Congresso Internacional de Nanotecnologia, Galembeck participou de duas mesas: "Laboratório, Protótipo e Mercado: Os Caminhos da Nanotecnologia" e "Nanotecnologia: A Visão Científica da Realidade e das Perspectivas", esta última acompanhada por Inovação. Além dele, Petrus Santa Cruz, da Ponto Quântico e do Laboratório de Nanodispositivos Fotônicos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), foi outro que participou de dois painéis diferentes, falando da experiência de empresário e de pesquisador. O laboratório integra a Rede de Nanotecnologia Molecular e de Interfaces (Renami).


Visão dos cientistas

A mesa sobre "Visão Científica da Realidade e das Perspectivas" foi mediada por Sergio Queiroz, secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Além de Galembeck, participaram Celso Melo, professor do Departamento de Física da UFPE, Luiz Henrique Mattoso, pesquisador do Laboratório Virtual (Labex) da Embrapa nos Estados Unidos, e Oswaldo Luiz Alves, também professor do IQ da Unicamp.

O primeiro a falar foi Galembeck, que criticou duramente o governo. Ele disse que há muitos desenvolvimentos positivos no Brasil em nanotecnologia, com resultados importantes em projetos de empresas e de parceria entre as firmas e universidades e que se realizaram independentemente do governo. Por conta disso e das oportunidades existentes, Galembeck defende a existência de um Programa Nacional de Nanotecnologia. "Mas não como o de hoje, que é um arremedo. Foi lançado em novembro de 2005, mas o documento-base dele que encontramos é um projeto de 2003. O que tem sido feito para a área não condiz com esse documento de referência", apontou ele, que considera o programa confuso. Ele criticou ainda a concentração de recursos em alguns laboratórios e disse ter dificuldades em enxergar os resultados desses investimentos. “O mais negativo são as bolsas para atividades tecnológicas, com prazos e recursos vexatórios", prosseguiu.

O pesquisador sugeriu que a nanotecnologia no Brasil deve apoiar atividades nas quais o País tem ou pode ter competitividade ou supremacia. Lembrou que há condições para o Brasil ser líder, exemplificando com o caso do etanol. Acrescentou que a nanotecnologia pode ser desenvolvida no País também para atender a necessidades locais não satisfeitas por supridores internacionais de tecnologia, caso do desenvolvimento de medicamentos para doenças tropicais, e em áreas nas quais há forte dependência do mercado externo, como informática.

Celso Melo, da UFPE, defendeu a necessidade de se elaborar um programa estratégico, como fizeram Cingapura e Tailândia. No caso do primeiro país, quando tomou a decisão por investir em microeletrônica, viu que não podia competir se trabalhasse com microeletrônica de silício e optou por desenvolver um programa de dois anos com uso de microeletrônica orgânica. O plano estratégico da Tailândia se voltou para a aplicação de nanotecnologia na indústria têxtil.

Melo complementou a fala de Galembeck, apontando nichos específicos nos quais o País teria mais chance de sucesso em nanotecnologia. Ele destacou o mercado de nanotubos, material que o Brasil não consegue importar porque é considerado estratégico pelos países que o fabricam; o de nanoalimentos; o desenvolvimento de liberação controlada de fármacos; e o desenvolvimento de medicamentos para doenças típicas de países subdesenvolvidos, negligenciadas pela indústria farmacêutica internacional.

Luiz Mattoso lembrou que a Embrapa lançou este ano o Laboratório Nacional de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio, com uma verba inicial de R$ 4 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e contrapartida de R$ 2,2 milhões da Embrapa, para a montagem da Rede Nacional de Pesquisa de Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio. A rede irá fazer uso dos equipamentos do centro de pesquisa e atuará em três linhas de pesquisa: sensores e biossensores para monitoramento de processos e produtos; membranas de separação e embalagens biodegradáveis, bioativas e inteligentes; novos usos de produtos agropecuários. "Queremos novas parcerias com o setor privado, vamos trabalhar com foco no produto. Nos Estados Unidos isso já é feito, de forma muito mais ágil do que no Brasil", disse.

Oswaldo Alves, da Unicamp, fez um breve resumo do estudo feito por ele para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em 2005, no qual mapeou a produção científica brasileira em nanotecnologia. Ele localizou 236 artigos nacionais em publicações estrangeiras e identificou 1.396 pesquisadores e 174 grupos de pesquisa no Brasil que trabalham no assunto. Também indicou o que considera oportunidades para o País, propondo pesquisas em nanotecnologia nos temas: armazenamento, produção e conversão de energia; tratamento de água e remediação ambiental; sistema de entrega de fármacos e diagnóstico de doenças; processamento e armazenamento de alimentos; incremento da produtividade na agricultura; construção civil; monitoramento da saúde humana; detecção e controle de pragas; combate à poluição do ar.

"Temos algumas lições de casa a fazer", afirmou. Alves enumerou as principais: atrair os jovens; ultrapassar barreiras entre as disciplinas; desenvolver novas habilidades e criatividade; estimular pesquisadores com mentalidade industrial; ampliar o investimento; ter capital de risco; melhorar o registro de patentes; ter regulamentação e metrologia para nanotecnologia; e manter o diálogo com a sociedade, com informação e comunicação.

Ao final, Queiroz perguntou aos integrantes da mesa se achavam que o Brasil deveria ter um laboratório nacional de nanotecnologia, como foi cogitado no passado. A resposta negativa foi unânime: todos defenderam a existência de centros regionais, dada a grande diferença entre as regiões brasileiras. Mattoso defendeu a iniciativa da Embrapa de ter um laboratório nacional, e Galembeck ressaltou que, nesse caso, faz sentido haver algo do gênero, pois o laboratório tem um foco específico de atuação, a agropecuária.


Propriedade intelectual em nanotecnologia

Outro painel acompanhado por Inovação foi o que tratou do tema "Uma Questão Crítica: o Registro de Patentes Nanotecnológicas no Brasil". O sócio fundador do escritório de advocacia Gusmão & Labrunie Propriedade Intelectual, José Roberto Gusmão, coordenou a mesa. Ele alertou para a dificuldade de se patentear algo em nanotecnologia, dada a multidisciplinaridade que a caracteriza. "Os escritórios de patentes, no Brasil e em todo o mundo, ainda não estão suficientemente preparados para fazer essas análises", afirmou. Ele recomendou, na redação da patente, cuidado extra para se determinar bem o escopo da invenção e indicar claramente a nova propriedade derivada da nanotecnologia e o ineditismo do produto.

Tamara Barle, responsável pela área de propriedade intelectual da Braskem, mostrou que nos EUA foram pedidas 664 patentes em nanotecnologia aplicada a polímeros, área de interesse de sua empresa, em 2006. Na Europa, são 343 pedidos e no Brasil, apenas 24. "Entre essas patentes, somente 20% é de origem brasileira", completou. A Braskem tem dois depósitos solicitados em nanotecnologia.

Oswaldo Massambani, diretor da Agência USP de Inovação, descreveu a Rede USP de Nanotecnologia, que visa a promover a integração das diversas iniciativas dos cientistas da universidade. Cem pesquisadores a integram. Entre 1990 e 1999, a USP publicou cem trabalhos em nanotecnologia; em 2005, foram 200 e em 2006, está em 150. "Das 402 patentes da USP, apenas três são em nanotecnologia", completou.

Roberto Lotufo, diretor da Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp), disse que a universidade tem 14 patentes na área nanotecnológica. Oito projetos da instituição foram apresentados no estande da Unicamp na feira da Nanotec 2006, entre eles o Biphor. Como a nanotecnologia pode permitir aplicações muito diversas de uma mesma tecnologia, Lotufo recomendou restringir o licenciamento da mesma para poucas aplicações, no caso de licenciamentos exclusivos. Isso dá possibilidade à universidade ou ao instituto de pesquisa de licenciar a mesma tecnologia mais vezes, para aplicações diversas, preservando a exclusividade e vantagem estratégica das empresas que adquirirem o direito de uso da patente, sem restringir as possibilidades de parceria da instituição de pesquisa.

Marcelo Tredinnick, examinador de patentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), apresentou dados ainda mais desanimadores. Contou que apenas 13 depósitos de patentes em nanotecnologia foram concedidas pela instituição no Brasil. O escritório norte-americano de patentes (USPTO) concedeu 286 depósitos, o europeu (EPO), 350, e o japonês (PAJ), 589 depósitos já feitos. Todos esses números se referem ao período de 2000 a 2006.


Nota do Managing Editor: este texto, de autoria de Janaína Simões, foi veiculado primeiramente no Boletim Inovação no endereço http://www.inovacao.unicamp.br/index.shtml, de 13 de novembro de 2006.


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